A Irmandade de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos é uma das mais antigas e tradicionais irmandades religiosas de São João del-Rei. Tanto que no dia 24 de maio do longínquo 1734, portanto há 279 anos, obteve do Papa Clemente XII um Breve para realizar o Jubileu das Quarenta Horas - tempo de duração da adoração feita ao Santíssimo Sacramento no período carnavalesco. No dia seguinte, novo Breve Papal concedeu indulgência de Altar Privilegiado ao altar de "Nosso Senhor Jesus Cristo dos Passos" da Matriz do Pilar de São João del-Rei, A indulgência valia todo Dia dos Defuntos - 2 de novembro - e seu oitavário, bem como infinitamente nas sextas-feiras de cada semana, pelas missas celebradas "por alma de qualquer fiel cristão".
Assim, as missas noturnas celebradas todas as sextas-feiras na Matriz do Pilar são de responsabilidade da Irmandade dos Passos, que se faz presente com seus irmãos vestidos a rigor, com terno escuro e opa roxa. Nestas cerimônias, a Orquestra Ribeiro Bastos executa músicas do repertório em grande parte composto para a Festa de Passos.
Aliás, a Festa de Passos é a mais extensa celebração do calendário religioso de São João del-Rei. Dura exatos 36 dias, quando são realizadas três Vias Sacras externas e solenes, três Encomendações de Alma, duas procissões de depósito, duas rasouras, a Procissão do Encontro, o Setenário das Dores e a Procissão das Lágrimas, da Soledade ou de Nossa Senhora da Piedade. Tudo isto no período que vai da primeira sexta-feira seguinte ao Carnaval até a última sexta-feira anterior à Sexta-feira da Paixão. Certamente em nenhuma outra cidade brasileira, e possivelmente em nenhuma outra cidade do mundo, as Celebrações dos Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo a Caminho do Calvário têm tão longa, completa e diversificada programação.
Mas não são só a duração e a variedade de liturgias que tornam a Festa de Passos a mais autêntica, tradicional e peculiar do calendário religioso são-joanense. É que ela é a mais sensorial das celebrações. A visão, realçada pela cor roxa preponderante nas alfaias e pela expressividade dramática das imagens; a audição, convocada por um repertório que diz muito à emoção; o olfato, aguçado pelo aroma do incenso, do manjericão, da rosmaninha e pelo perfume que a multidão usa, como se estivesse em uma noite de gala; pelo tato, sensível ao contato do veludo da roupa das imagens, das fitas de cetim que são beijadas, da madeira da cruz que é acariciada, das folhas e ervas aromáticas que são recolhidas; do paladar das amêndoas de coco e amendoim com açúcar, embaladas em coloridos cartuchos cônicos de papel e até no almoço festivo do Domingo de Passos, tradicionalmente composto por lombo e tutu.
Para São João del-Rei, a Festa de Passos é a um só tempo realidade, presente e memória. Fé, arte e cultura! Confira nos links abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=2OUpkf8cVcE
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Fonte: CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João del-Rei. Volume I, segunda edição revista e aumentada. Imprensa Oficial de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1982.
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