- Valei-me, meu São Miguel Arcanjo!
Não foram poucos os são-joanenses que com estas palavras, algum dia, invocaram a proteção dele: o anjo poderoso que, com sol no peito e espada de fogo, é invencível na luta contra o mal e contra os maus. É infalível no combate ao Maligno, a quem, com seu olhar brilhante e firme, porém sereno, e o nome de Deus em pensamento, afugenta e acorrenta no fundo do Inferno. Trazendo-nos a temperança, a justeza, a justiça e o equilíbrio, dele pende na mão esquerda uma balança de dois pratos, onde compara em peso as virtudes e as impurezas do mundo.
Dizem que São Miguel estabeleceu-se em São João del Rei nos primeiros anos do século XVIII, antes até que a febre do ouro e a cobiça pelo rico metal fizessem dos homens inimigos, na sangrenta Guerra dos Emboabas.
Sangue, selvageria, tortura, crueldade, destruição, morte, desolação, pavor. Nesta cruenta peleja, o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar ardeu-se em chamas, mas como por milagre, a imagem da Padroeira espanhola e a do Arcanjo venceram intactamente o fogo e, em pouco tempo, viram ressurgir das cinzas a Vila de São Joao del-Rei.
Desde então, entre nós, todo dia 29 de setembro São Miguel Arcanjo é festejado com muita pompa e piedade na Matriz do Pilar são-joanense. Seu altar refulge em ouro, iluminado por velas altas, da melhor cera, entre missas, incensamentos, tríduos, bênçãos do Santíssimo Sacramento, canto do Te Deum Laudamus - tudo ao som divino da memorável e bissecular Orquestra Lira Sanjoanense. Do alto de sua torre, em horas próprias, o sino da Irmandade das Almas toca festivo, nos três dias de oração e - mais ainda - no dia consagrado ao Arcanjo.
Em tudo, São Miguel Arcanjo é emblemático, tanto para a comunidade católica são-joanense, como também para outras religiosidades, inclusive as mais populares, que invocam seu nome e seu poder na cura de doenças espirituais, neutralização de forças negativas e livramento de vícios e malefícios, por meio de orações, promessas, rezas e benzeções.
Ainda hoje, sobrevivem quadros emoldurados do Arcanjo Miguel nas paredes antigas de casas simples, assim como não raro se vê a conhecida Oração de São Miguel fixada atrás da porta de saída para a rua. O santo é guardião da cumeeira da casa, da família e de seus membros; é vigia e segurança das portas de entrada e de saída e protetor de quem as cruza e sai para o mundo da rua que - cheio de enganos, ciladas e tentações - desde nunca é terra de ninguém.
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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
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