Pular para o conteúdo principal

A magia do Natal através dos tempos em São João del-Rei


Mal dezembro se anuncia, Jesus dá sinais de seu Advento em São João del-Rei. Serena orvalhos de ternura, semeia estrelas luminosas na noite escura, faz brotar flores de bondade, que dão frutos de calor e fartura, sopra brisas de fina música e sorri com mansidão.

Foi assim no anoitecer deste domingo - o primeiro do Advento de 2019. Como no conto alemão do flautista de Hamelin, a Rua das Flores transformou-se em uma longa pauta musical, por onde os sons suaves de um violino, de um violoncelo, de um piano e de uma flauta subiam até o altar-mor da Capela do Divino Espírito Santo e, de lá, pousavam nos corações serenidade, encantamento, conforto, alívio, esperança, humanidade. Nos corações infantis,  jovens, maduros e mais vividos, de homens e mulheres, brancos e negros, indistintamente. São João del-Rei tem dessas coisas, surpreende sempre, com arte e encantamento, quando menos se espera, como por exemplo numa noite qualquer de domingo!

Peças de compositores consagrados - como Vilani-Côrtes, Schubert, Marco Pereira, Piazzolla, Bach, Vivaldi e Gruber, na virtuose do Trio Clan (Adriana Mundin, Cleiton Ribeiro e Diego Alves) e do flautista convidado Rodrigo Frade - foram agradecimento generoso a todos que compareceram, retribuindo os alimentos não-perecíveis e materiais de limpeza doados como ingresso, em favor das Obras Sociais da Paróquia do Pilar. Mútuas generosidades.

Dezembro é um mês que adoça a vida, com confraternizações, alegrias, perdões, presépios, presentes, promessas... Tudo, para os católicos, em memória do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Hoje, mesmo em São João del-Rei, poucas crianças ainda acreditam em Papai Noel.
Pelo contrário, na verdade muitas até têm medo do "bom" e ultrapassado velhinho, com sua enorme barba branca e seu estranho uniforme.

Sinal dos tempos, na noite do dia 24, ninguém mais coloca sapatinho atrás da porta ou na janela. Pra quê, se agora o trenó é a internet? Mas como a Fé remove montanhas, vou fazer aqui, publicamente, o meu pedido de Natal, e tenho certeza que a vida e a esperança não vão me decepcionar. Desejo absolutamente, vou fazer por merecer e, mais do que tudo, vou conquistar.

- Quero outra vez ser menino. Quero de novo a infância, que dia após dia todo mundo vai deixando escapar entre os dedos, trocando ilusão pelas certezas inúteis e vãs. Quero voltar no tempo, lá atrás!

- Pensando bem, vou até colocar o sapato mais velho - gasto, surrado e confortável, já com o formato de meu pé - atras da porta. De verdade! O concerto do Trio Clan me inspirou e me convenceu a fazer isso. Não quer fazer a mesma coisa você também?

.o0o. .o0o. .o0o. .o0o. .o0o. .o0o..o0o.
Texto e foto: Antonio Emilio da Costa

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j