Pular para o conteúdo principal

Nhá Chica do Rio das Mortes. Fé e bondade nascida em São João del-Rei


No dia em que Nossa Senhora da Conceição vier a São João del-Rei, certamente fará questão de visitar o distrito são-joanense de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, ou simplesmente Rio das Mortes. Lá, tomará pela mão sua afilhada e com ela caminhará por uma estrada de terra, até chegar à sombra de um bambuzal e à margem de um rio, onde as ruínas de uma igreja emanam perfume de sereno, orvalho e inocência. E então a menina lhe mostrará o local exato onde, no começo dos anos oitocentos, foi batizada Francisca de Paula de Jesus - a hoje Beata Nhá Chica, afilhada de Nossa Senhora.

O Rio das Mortes é um lugar claro e iluminado. Seu povo alegre e gentil sabe a graça divina que é viver no local onde nasceu Nhá Chica. E compartilha isto com todos que visitam o lugar, para agradecer favores ou em busca de intercessões da santa contra dificuldades e aflições. Logo que alguém desconhecido se aproxima do portão e do cruzeiro para olhar a igreja de Santo Antônio, algum morador logo aparece e busca outro, que tem a chave da sacristia, abre a porta e conduz o visitante pelo batistério, pela capela do Santíssimo Sacramento e pela nave da igreja, com suas muitas e grandes imagens barrocas e quatro afrescos contando a vida de Santo Antônio. Seus milagres, dois deles muito interessantes. Em um deles, o santo de Pádua fala com um burro e no outro, advoga contra o demônio em favor de uma alma. Ao que tudo indica, é uma das únicas igrejas do mundo que possui o Espírito Mau em sua decoração, dizem...

Naquele distrito de São João del-Rei - outrora famoso pela produção do sabão de bola, feito com cinza e sebo de boi e embalado em palha de milho, e pela massa de bolinho de feijão, ralado na pedra - o senhor Quico se dispõe a, voluntariamente, levar o visitante, devoto ou turista a dois lugares religiosamente ímpares na história da Beata Nhá Chica: o provável local onde ela nasceu para a vida humana e o local onde, pelo batismo, ela nasceu para a vida celeste.

Todos os dois são ambientes telúricos e humildemente delicados, a singela natureza do campo orvalhada de simplicidade e paz. Especialmente as ruínas da igreja, onde recentemente se descobriu, durante recente escavação, o piso de pedra do batistério, encoberto de terra pelas enchentes do rio e pela ação do tempo, do sol e do vento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j