Em São João del-Rei, quando ainda hoje se diz que algo ou alguém não tem eira nem beira, não se está fazendo um elogio. Pelo contrário! Sem eira nem beira quer dizer sem fundamento, descabido, sem posses nem referências, sem qualquer coisa em que se possa basear para atribuir algum valor ou reconhecimento.
No período colonial, a expressão servia para designar alguém muito pobre, quase um sem-teto, já que eira, em Portugal, significava pátio ou quintal e beira o mesmo que beiral: acabamento na base do telhado, que se projetava à frente da fachada das casas residenciais e das edifícações públicas. Até as igrejas tinham, nas laterais, de telha, madeira ou em pedra, belos beirais.
Passeando pelas ruas, largos e becos de São João del-Rei, quem observar a fachada das casas simples, dos casarões e dos sobrados vai se deparar com vários tipos de beirais.
As famosas beiras-seveiras, que são rendilhados de duas ou três camadas de telhas, com a curvatura para baixo, fazendo um acabamento delicado e gracioso entre a fachada e o telhado. Naquele tempo, indicavam nobreza.
As cimalhas, geralmente de alvernaria, são uma faixa horizontal, ondulada e com sulcos, que acompanha toda a fachada, servindo de base para a beira, que é a última camada de telhas e se projeta telhado afora. Mais austeras e por isto mesmo menos graciosas e mais imponentes do que as beiras-seveiras, inspiravam poder.
Os beirais de cachorro, mais simples do que os outros dois, também tem seu encanto. São pontas de caibros de madeira, muitas vezes bastante grossos e finalizados com um recorte, que apoia uma faixa de madeira ao longo da fachada. Cuidadosa solução estética, são uma projeção externa do telhado, sustentando a beira.
Já a beira é o mais humilde dos beirais. Nada mais do que o acabamento do telhado, é uma beirada que, quando muito, avança meia telha curva adiante da fachada...
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