São João del-Rei não é apenas território geopolítico. Latitudes, longitudes, trópicos, meridianos, geografias, graus, distâncias, fusos horários, calendários – às vezes, nada disso é suficiente para dimensionar, emoldurar ou situar, no tempo e no espaço, São João del-Rei. A cidade tem temporalidades e territorialidades próprias, métricas peculiares para definir ritmos, pausas e compassos que só sentimento e emoção conseguem divisar.
Em São João del-Rei, arte, cultura e tradição são uma coisa só: vida. Principalmente quando envolvem crença e religiosidade. De um lado ou do outro da Ponte do Rosário, em qualquer margem do Córrego do Lenheiro, é impossível acompanhar uma procissão ou testemunhar um ofício sacro como quem assiste a um espetáculo. Em São João del-Rei o sagrado não é uma utopia inalcançável. É sangue que corre nas veias, que palpita e faz pulsar o coração.
Em São João del-Rei, Deus não é maestro a reger ventos, tempestades, astros nem estrelas em sinfonias de céu limpo ou revolto. No Domingo de Passos, ele anda de joelhos pelas ruas estreitas, calçadas de pedra, carregando pesada cruz e buquê de orquídeas, para nas capelas-passinhos, onde em cada uma mira a si mesmo, como em imaginários espelhos. Se for preciso, para não molhar, corre da chuva.
Na volta para casa, antes de sair da igreja de seu irmão, São Francisco, recebe afagos nas feridas de sangue e rubis, bilhetes com pedidos secretos – e tão corriqueiros! -, beijos na fita, ouve lamentações, súplicas. Agradecimentos? Muito poucos. Quase nenhum...
Em São João del-Rei, Deus e o homem são íntimos. Um do outro, imagem e semelhança!
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