Letras do tempo, escritas com lágrima e dor nas páginas obscuras, sombrias e esquecidas da história do Brasil cochilam sossegadas, longe dos olhos e da memória, guardadas em algum lugar de São João del-Rei.
Uma fita ondulante, erguida no bico de dois beija-flores, mais parece uma pauta musical. Nela, as notas são quatro letras que escrevem, acentuada, a palavra Amôr.
Logo abaixo, um coração flamejante, apunhalado e sangrante, tem ao lado ramos de flores humildes, um passarinho triste e uma borboleta quase sem vontade de voar. Tudo no centro de uma pequena toalha de algodão branco, hoje amarelado pelo passar dos longos dias e dos anos lentos e distantes.
- Mas o que é que esse pano, esse bordado, tem de tão importante para almejar estar guardado em museu?
- Ora, esta toalha é uma página da história. Aqui anda meio jogada, desprezada, mas se outros lugares soubessem dela, certamente seria muito disputada...
- Quem bordou isto, com linhas tortas tão sem vida e pontos tão desalinhados e ordinários?
- João Cândido, o Navegante Negro. Não conhece aquele samba sobre navio negreiro, dragão do mar e coisa e tal, não? Garanto que você já cantou em muita roda de samba. Pois é. Os pontos sem brilho e embaraçados como a própria vida contam a história da Revolta da Chibata! Mas quase ninguém sabe disto. Nem em São João del-Rei...
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