Mesmo quem vive em São João del-Rei, e atravessa todo dia as ruas, praças e becos do centro histórico, pode sempre se surpreender com a paisagem. Basta desprender-se do pensamento demasiadamente racional e da visão rotineira dos caminhos e percursos, para deixar livre o olhar e, então, ver o que sequer imagina.
Os telhados, por exemplo, com suas sucessões de muitas águas, formando belas geometrias, com a textura das telhas curvas, coloniais, que alternam cores que vão do marrom e do avermelhado até o quase ocre-rosado das capas e bicas mais novas, que foram trocadas há pouco tempo. Eles mostram uma face surpreendente e praticamente desconhecida da paisagem são-joanense, acostumados que somos a olhar apenas as fachadas do casario. Que também são muito bonitas.
Aliás, como são belas as fachadas das casas e sobradões do centro histórico de nossa cidade! Retratando diferentes estilos, característicos principalmente da evolução econômica, social e cultural que marcou São João del-Rei ao longo de três séculos, elas nos falam de uma realidade dinâmica: o Brasil Colônia, o Ciclo do Ouro, a urbanização e a higienização, a chegada da Estrada de Ferro, o crescimento do comércio, a instalação das fábricas de tecido, a sede de progresso, a ilusão da modernidade e, mais recentemente, o resgate da consciência patrimonial preservacionista. A arquitetura de São João del-Rei nos conta a história da cidade ao longo de 300 anos.
Nas ruas, largos e praças daqui, a fé está em toda parte, não só com suas igrejas monumentais e pequeninas capelas, mas também com os Cruzeiros da Paixão, ao lado da igreja das Mercês, no Pau d'Angá, no Morro da Forca, no Senhor dos Montes, no Largo da Cruz, perto da Caieira, e outros mais simples, sem os enigmáticos estigmas, mas igualmente impregnados de significado e força religiosa. E, ainda mais, com os 'passinhos' da Via Sacra, que são pequeninas capelas de altares dourados e fachadas esculpidas artisticamente na pedra sabão, fechadas por grossas portas vermelhas, altas, de duas bandeiras.
Aqui, a fé é tão forte que, desejando a proteção de Deus para o dia que começa, muitos são-joanenses - jovens, maduros e idosos - não se esquecem de fazer o sinal da cruz ao passar de manhã cedo diante de uma igreja ou capela, garantindo boa sorte para o seu dia de trabalho ou para a solução daquilo que lhes preocupa e tira a saúde, a paz e o sossego.
São João del-Rei é a "terra onde os sinos falam", mas quem, passeando pelo centro histórico, apurar o ouvido para escutá-los melhor, certamente vai se encantar com a beleza dos seus sons, com a sofisticação dos seus ritmos, com a complexidade de sua linguagem, com a velocidade de seus movimentos e com a alegria de suas mensagens. Em geral, meio dia, três horas e seis horas da tarde são os horários em que mais tradicionalmente eles tocam, exceção dos toques fúnebres, que ocorrem em horas próximas do enterro, nas igrejas do Carmo, das Mercês, da Catedral do Pilar, do Rosário, de São Francisco e de São Gonçalo. Mesmo tristes e pungentes, ou talvez por isso mesmo, os toques fúnebres, além de belos, são plenos de sentimento e significado.
Se a quem passeia pelo centro histórico a paisagem de São João del-Rei encanta e seduz, imagine o que ela proporciona a quem mora ou, visitando a cidade, se hospeda, nas áreas antigas, próximas das igrejas, em casas que foram construídas por volta de 200 anos? Ora, a estes, ela dá a sensação de que vivem, ao mesmo tempo, em duas eras muito diferentes: na era digital, comandada pela tecnologia, e em séculos passados, onde tudo segue o ritmo do toque dos sinos e da música das bandas e das orquestras!
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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
Moro aqui há já quase quatro anos, e continuo sempre me encantando por essa cidade que me conquistou de diferentes formas!
ResponderExcluirAliás, parabéns pelo excelente blog. Gostando muito de ler mais sobre São João em suas postagens!
Abraços.
Larissa, com tanto amor pela cidade, considere-se uma cidadã são-joanense e esteja certa: você ainda vai se encantar muito com São João del-Rei e admirá-la cada vez mais!
ExcluirAgradeço seu carinho pelo blog e conto com você para torná-lo ainda mais conhecido!