São João del-Rei é território sagrado. Principalmente na região que compreende o centro histórico onde, a curtas distâncias entre si e das formas mais variadas, diversos marcos lembram e servem como pórticos para o são-joanense adentrar no universo profundo de sua religiosidade e chegar até as profundezas de sua fé, suas crenças e lembranças. Quem, andando pelos lados antigos de São João del-Rei, nunca viu um são-joanense, jovem ou mais vivido, interromper seu pensamento, diminuir o ritmo de seus passos e fazer o sinal da cruz ao passar diante de um cruzeiro, de um cemitério ou de uma igreja?
Este é um comportamento que, mesmo diante dos novos modelos, padrões e valores impostos pela sociedade hiperconectada, digital e virtual, continua firme como parte da rotina de muitos são-joanenses. E as razões são infinitas: pedir proteção divina, fortalecer-se na luta contra os maus e contra os males, abrir e desembaraçar os caminhos tortuosos e confusos, abrandar a ira e amansar o coração dos inimigos, afastar o "coisa ruim" e escapar de suas armadilhas, manter vivos, em memória, os antepassados que lhes ensinaram estes costumes, entre tantas outras.
Hoje é praticamente raro, mas até algum tempo atrás, era comum encontrar imagens quebradas, crucifixo incompletos, medalhas de santo, escapulários e outros objetos votivos danificados nas pequenas bacias de pedra fixadas internamente ladeando a porta principal, para que a própria igreja desse a eles o destino derradeiro.
Entretanto, na cruz de madeira e pedra que existe na esquina da encruzilhada torta que junta as ruas Padre Faustino, Carvalho de Resende (Pau D'Angá), Luiz Cardoso e Coronel Tamarindo (Rua do Barro), esta prática ainda existe e está bem viva. Não propriamente com imagens sacras, mas com terços arrebentados, quebrados ou indesejados para a contagem das ave-marias e pai-nossos. Eles são amarrados anonimamente naquele monumento religioso simples e importante, onde toda terceira sexta-feira da Quaresma a Encomendação de Almas para e ali despacha cânticos e orações para os mortos.
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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa.
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