Nem só de grandiosidade e opulência vive o patrimônio arquitetônico de São João del-Rei. Para além de igrejas magníficas, nobres casarões e elegantes sobrados, que encantam gentes do mundo todo, a cidade possui também outro tipo de patrimônio construído, igualmente importante.
Assim como os monumentos patrimonialmente consagrados, que em geral registram a história dourada do domínio português, da igreja católica e da nobreza da época colonial, este outro patrimônio é igualmente valioso, porém muito diferente. Em sua grande maioria, ele é registro da história das pessoas humildes, que em épocas passadas viveram entre muitas dificuldades e, mesmo assim, contribuíram decisivamente com sua força de trabalho - e também com sua criatividade - para a construção do que é a identidade são-joanense. Aliás, mais do que a identidade, mas a própria alma de São João del-Rei.
Um ótimo exemplo é esta residência da foto. Edificada na subida do Largo da Cruz rumo ao Alto das Mercês, fazendo esquina para um beco muito estreito e desprovido de qualquer cuidado, ela mais parece uma casa de brinquedo, tão pequenina que é: telhado de duas águas, bastante angulado na vertical, com duas janelas de tamanhos diferentes e uma porta baixa, com cancela de ferro batido artisticamente trabalhado.
Também por dentro ela é uma preciosidade. Cômodos minúsculos, divididos segundo uma planta que segue os moldes de antigamente. Teto baixo, materiais construtivos originais e um pequeno quintal com uma gruta de pedra, que abriga do sol e da chuva a santa negra louvada e invocada nas aflições como Nossa Senhora Aparecida.
Tudo leva a crer que é uma construção muito antiga, talvez do período colonial quando se garimpava ouro artesanalmente no ribeirão e cursos d'água da Serra do Lenheiro e nas betas do Morro das Mercês. Fica próxima ao Fortim dos Emboabas, onde hoje funciona o Museu do Barro, da UFSJ. Por sua história, originalidade e singularidade, bem podia acolher um pequeno memorial a ser criado em homenagem aos garimpeiros de São João del-Rei e ao seu ofício artesanal de encontrar ouro, tão importante nos primórdios do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, que deu origem à nossa cidade.
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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
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