Se Nossa Senhora do Pilar, vinda com os brancos, bandeirantes, desaforados e opressores, é a padroeira de São João del-Rei, Nossa Senhora do Rosário, que veio com os negros - com os cativos, com os escravos, com os libertos e com os livres - é a matriarca desta terra.
Sua corte na cidade começou oficialmente em 1708, quando a territorialidade são-joanense não passava de um arraial. A Irmandade do Rosário de São João del-Rei, uma das três mais antigas do Brasil e a pioneira de Minas Gerais, talvez seja a primeira instituição de direito civil, privado e religioso constituída na Comarca do Rio das Mortes. Documentos e datas não mentem. O orgulho dos irmãos do Rosário também não.
Sua igreja foi das primeiras edificadas no Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, numa situação geográfica que ostenta sua expressão e seu significado na sociedade daquela época dourada e colonial. Também festejada no mês de outubro, porém durante todos os trinta e um dias, é aquela a quem se chama em silêncio, nas horas de mais profundo recolhimento. Às vezes nem é preciso chamá-la: pressentindo o sofrimento, ela se antecipa em socorrer, anunciando a chegada de seu amor na forma de uma brisa misteriosa e docemente perfumada de rosas suaves.
O séquito de Nossa Senhora do Rosário é formado por reis congadeiros, marujos, catupés, caboclinhos, guerreiros, todos roucamente ruidosos no rufar de suas caixas e nos cantos guturais, que venceram noites, chibatas e oceanos; transporam a Serra do Lenheiro e pulsam eternamente no coração de cada negro são-joanense.
Conversando com Nossa Senhora do Rosário, Jota Dangelo disse:
Nas contas do teu rosário,
contou-se dores de escravos.
Curou-se chagas de açoite,
com a invocação do teu nome.
Luz que findou a noite,
consolo dos que têm fome.
Rainha dos congadeiros,
quer dizer, dos brasileiros,
pois nas raças, misturados,
não somos brancos nem negros.
Todos nós somos só pardos!
Texto: Antonio Emilio da Costa / Foto: Danilo Gallo
Mestre Vavá é o insigne baluarte da cultura são-joanense, ícone das tradições do distrito de São Gonçalo do Amarante. Viva!!! Deus lhe dê uma vida longa...
ResponderExcluirParabéns, Emílio.
Grande abraço.
Meu caro Ulisses,
ResponderExcluirMais do que ninguém, você sabe: a congada e as folias são riquezas muito preciosas da cultura de São João del-Rei. Olho no olho, mão na mão, reza forte, canto firme,devoção fervorosa, pé decidido batendo no chão.
Viva Caburu (ou São Gonçalo do Amarante, se preferirem)!Viva Mestre Vavá! Viva Ulisses Passarelli, mestre e embaixador da cultura popular de nossa terra!
Grande abraço.