Paulinho foi para o céu / com suas cores e seu pincel / pela flecha de Oxóssi, a espelhar São João del-Rei no firmamento.
Foi para o céu amorosamente lançado naquela flecha de prata que, retirada por empréstimo do peito de São Sebastião, o levou de entre nós, de uma única vez, para o sempre e para o nunca mais.
São Sebastião é santo milagroso. Crê-se que nos livra da peste, da fome e da guerra. Mas não conseguiu desviar Paulinho de sua trajetória final rumo às estrelas, ontem, 20 de janeiro, dia que todo ano Lhe é dedicado.
A notícia deixou, em todos que conheceram Paulinho, um sentimento indefinido: finitude, incompletude, pesar, zelo, vazio, ausência, falta... Não que o pintor das delicadezas estivesse sempre à vista, pelas ruas, no vai e vem cotidiano ou em datas festivas. Não. Para quem o conheceu, Paulinho estava exatamente no "não-estar", ele existia na lembrança da gentileza que zelava em todos nós; na mansidão com que nos saudava com sua voz baixa e seu olhar luminoso.
Principalmente nos anos 80/90, era comum ver Paulinho, de bicicleta e cavalete, nos largos e becos, inebriado pela paisagem colonial de São João del-Rei, transmutando-a em telas, em um tempo imemorial, com pinceladas leves, curtas, delicadas como nuvens claras no céu azul.
Nosso artista era são-joanense e, dizem, desenvolveu a arte ainda na infância de menino negro, desenhando no chão. Adolescente, alcançou paredes, postes, murais e quadros de avisos, criando cartazes para divulgar festas, espetáculos teatrais, shows.
A partir de então estava selado seu destino como artista plástico, que foi generosamente incentivado e influenciado pela pintora Lucila Cesari, de quem recebeu não só acolhimento artístico, orientação, informação e formação, mas também apoio material, com telas e tintas. Assim, as telas, as cores e os pinceis - e principalmente a habilidade, a sensibilidade e o amor à paisagem colonial de São João del-Rei - consagraram este nosso pintor no universo das artes plásticas são-joanenses.
Neste 20 de janeiro Oxóssi lançou Paulinho ao firmamento, na flecha de prata que tomou emprestada do peito de São Sebastião.E o Panteão da Cultura de São João del-Rei ganhou mais uma entidade, que merece de nós todo respeito, zelo e lembrança!
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Texto: Antonio Emilio da Costa
Foto (detalhe): Acervo Toninho Ávila / São João del Rei Transparente
Referência: : Feira da Boa Zona
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