Quem vem conhecer ou visitar São João del-Rei, sabe que vai voltar no tempo. Retornar aos primórdios do século 18, caminhar décadas pelo século 19, acompanhar o desenvolvimento e a modernização do Brasil no século 20 e conhecer a realidade e as perspectivas de uma cidade histórica progressista nesses dois decênios do século 21.
Tudo isso andando pelas ruas coloniais surgidas há 300 anos, visitando as igrejas barrocas, museus e monumentos são-joanenses e participando de festas e celebrações que contam sequencialmente três séculos de história, com sua paisagem natural e urbana, sua arquitetura civil e religiosa e suas tradições sacras e profanas que resistiram ao tempo, se fortaleceram, solidificaram, e são hoje um dos mais ricos patrimônios imateriais do país.
E para vivenciar a cidade em toda sua riqueza, diversidade e pluralidade, nada melhor do que se hospedar no centro histórico, que é o coração cultural de São João del-Rei. Nos largos, praças, vielas, ruas estreitas e becos, o tempo escorre lento como um riacho tranquilo. O mundo parece girar devagar e o sol não tem nenhuma pressa para dar à lua seu lugar no céu. O tempo, ainda se conta no relógio de bolso; as horas se sabe pela posição da sombra e as estações do ano se percebe pelas floradas das orquídeas, do jasmineiro, do manacá, das laranjeiras... A vida, bem, a vida se mede pelo que já se viu, se sentiu e pelo que já se sabe. E quando cada uma chega ao fim, um sino logo anuncia que alguém vai para o nunca mais.
Passar dias no centro histórico de São João del-Rei, em uma casa colonial autêntica, então, é de fato viver o tempo do ouro. Com suas grossas paredes de adobe caiadas de branco, coloridas janelas de bandeira ou guilhotina, portas largas e altas, assoalho de madeira, iluminação e ventilação naturais, elas são a morada da história e do passado, com suas lembranças, suas histórias, seus segredos, seus silêncios, suas vozes, sua temperatura, sonoridade e sabor.
Delas, se ouve o dobrar e repicar dos sinos. A banda tocar marchas e dobrados. A maria-fumaça apitar, anunciando sua partida ou chegada na estação. Fogos de artifício estourarem no céu, enchendo a noite de cometas e estrelas coloridas. Cheiro de comida boa, mineira, caseira, temperada, quente, farta, vinda da casa dos vizinhos.
De suas janelas, se vê quem passa na rua fazer o sinal da cruz diante das igrejas, quando vai para o trabalho; as mães que levam crianças para a escola; os adolescentes namorados que furtivamente e atrapalhados se beijam à luz do meio-dia; os velhos e velhas que saem a esquentar sol, que vão para a missa, que se esperam e se encontram para contar casos, lembrar do passado, comentar o ocorrido, desconfiar do futuro...
De suas janelas, se vê que São João del-Rei não vive apenas de lembranças e recordações. Se vê que São João del-Rei respira, recorda, acorda, inspira, transpira, trabalha, festeja, sonha, ama e vive! E a gente até se torna cúmplice...
Comentários
Postar um comentário