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Em São João del-Rei acontecem coisas que até Deus duvida. E que nem mesmo o Diabo acredita....

Detalhe do portão do Cemitério da Ordem Terceira do Carmo de São João del-Rei

O que é realidade? O que é fantasia? O que é delírio? O que é verdade? O que é imaginação? Em São João del-Rei, tem hora que ninguém sabe. Só depende do ponto de vista.

Tem história verdadeira que mais parece lenda, que bem podia ser estória. Mas há quem jure que é verdade, que aconteceu mesmo...

Como o caso do bêbado que, tempos atrás, voltando para casa ao entardecer, viu o portão do Cemitério do Carmo aberto. Desorientado e mal das pernas, resolveu entrar. Lugar fresquinho, silencioso, bonito, florido, cheio de anjos, ninguém por perto. Tantos labirintos estreitos, com tantos retratos e escritos, fizeram a cabeça rodar. Deitou num canto, pegou no sono.

Sem enterro naquela tarde, o coveiro - que pra esquecer a monotonia também dera muitas voltas no 'butiquim'  da esquina - deu voltas com a chave no artístico e pesado portão, desincumbido da última ronda vespertina. Escurecia, o sino batia, melhor ir pra casa.

Madrugada dissipando, já sóbrio, acordou o homem com o grito do padeiro. Esperançoso, correu até o portão de ferro batido. Trancado. Com fome, no ainda nebuloso escuro, estendeu a mão e gritou:

- Ô padeiro, me dá um pão!

Foi balaio pro alto, pão pra todo lado.

- Alguém viu o padeiro?

Dizem questá correndo até hoje, e agora também procurando a própria voz...

Em São João del-Rei, juram que aconteceu. No Cemitério do Carmo...

Comentários

  1. Antiga é pouco. Deve ser centenária. Mas conhecendo o Cemitério do Carmo e seu entorno boêmio (creio que desde sempre)dá até pra acreditar que aconteceu.

    Aliás, o portão do Cemitério do Carmo, por si só, é um "acontecimento". Inspira novos posts. Mas esta história (ou estória?) fica para outro dia...

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