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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Na São João del-Rei das beiras-seveiras, entre encruzilhadas e esquinas

Este fim de janeiro, quando São João del-Rei começa a se despedir do festival gastronômico Happy Hour, que chegou à cidade juntamente com o ano de 2013  e vai até o primeiro fim de semana de fevereiro, é o momento certo para se lembrar de um interessante espaço gastronômico-cultural surgido em fins dos anos 80 " na rua mais antiga, mais poética e mais bonita da cidade " - o Beira Seveira Bar e Restaurante. Instalado no número 17 da Rua Santo Antônio, a ele se chegava descendo por uma estreita escadaria  que se abria do estreito vestíbulo e levava para um lugar inusitado: um porão colonial, sustentado por várias colunas de pedra construídas na metade do século XVIII. Eram elas que projetavam para o alto o casão, colocando-o no nível da rua calçada com pedras pretas pé-de-moleque. Sua iluminação, vazada de lampiões e arandelas, acentuava o clima de mistério, criado a partir dos bancos e mesas de antiquário e de muitos utensílios e utilitários de estanho e cobre. Ao fundo,

Carnaval São João del-Rei 300 anos. São João del Rei Momo. Quanto riso. Oh! quanta alegria!...

Sempre que é tempo de Carnaval, São João del-Rei bem poderia mudar de nome. Chamar-se São João del Rei Momo, tamanha é a entrega que a cidade se faz à brincadeira, à folia, à fina ironia, ao saudável deboche, à crítica necessária a tudo o que é socialmente instituído, a todos os modelos e construções sociais que regulam a vida do homem moderno. Em muita coisa - e à muita coisa - São João del-Rei subverte, se subverte, se vira pelo avesso, para logo em seguida se reestruturar, se recompor, se reorganizar, resgatando então, ora reforçados e fortalecidos, ora renovados, seus valores tradicionais. Mas o Carnaval de São João del-Rei não é só isso. Em meio à espontaneidade dos blocos e à esforçada estética das escolas de samba, que a todo custo buscam na linguagem carnavalesca uma didática que torne educativos os seus enredos, uma ideia se destaca. É a Atitude Cultural com o seu Carnaval de Antigamente . Pode parecer estranho uma entidade tão sedimentada denominar-se "atit

São João del-Rei, 8 de dezembro de 1913

Há  cem anos, uma das homenagens a São João del-Rei por seu bicentenário como vila  foi o lançamento de um "álbum" impresso em que o autor "TB" apresentou diversos aspectos locais, mostrando como a cidade se via, era vista e se apresentava para Minas Gerais e para o Brasil. Com muitas fotos e ilustrações, referia-se ao desenvolvimento da cidade em vários setores: comercial, industrial, educacional, de saúde, artístico e muitos outros. Citava diversas personalidades, enumerando seus grandes feitos. Falava das tradições religiosas, demografia, urbanismo, instituições sociais, educandários, administração pública e comemorações cívico-sociais importantes - tudo documentado com fotografias que mostravam como era São João del-Rei quando chegou o século XX. Sobre a efeméride dos 200 anos de instituição da Vila de São João del-Rei, o  "álbum" traz o seguinte: Oito de dezembro de 1913 - O Bicentenário No dia 8 de dezembro do corrente ano, a nos

Vandalismo e conto do vigário na Matriz do Pilar de São João del-Rei. Era 24 de janeiro de 1844...

Com quase trezentos anos, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar figura como um dos mais belos, imponentes e importantes templos  barrocos de São João del-Rei. Não só de nossa cidade, mas também de Minas Gerais e do Brasil. Sua talha dourada é requintada, as pinturas de seu teto muito originais e singulares, sua prataria refinada e valiosa e suas imagens, todas muito antigas e expressivas. Dizem até que algumas existem desde o tempo da capela primitiva que, no morro do Bonfim, foi incendiada durante a Guerra dos Emboabas. Pois bem, há 169 anos, no dia 24 de janeiro, o "vetusto" templo foi alvo de vandalismo que, na verdade, começou com um conto do vigário . Sabe como aconteceu? Altas horas, o sacristão dormia em sua casa, em beco próximo à igreja, quando foi acordado com fortes pancadas em sua porta e alguém gritando: - "A porta lateral da igreja, no lado do Cemitério está aberta! Convém fechar!". Preocupado, ele não pensou duas vezes. Vestiu um agasalho, pego

Garimpando ouro cultural em São João del-Rei

Da riqueza cultural de São João del-Rei, ninguém duvida. Suas tradições tricentenárias, sua música barroca, a beleza de sua arquitetura, a singularidade de sua Semana Santa, das Comemorações de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, das procissões que acontecem durante todo o ano, das folias, congadas, concertos. Entretanto, se é tão vasto e único este universo peculiar de cultura  e memória - patrimônio puro -, pequena ainda é a produção impressa, bibliográfica, fonográfica, fotográfica e videográfica que, materializada em produto físico, pode ser adquirida por quem mora, visita, estuda ou, simplesmente, gosta da cidade e com ela mantém laços os mais diversos. Além de ser "muito discreta" esta produção, em relação à grandeza da cultura são-joanense, encontrar à vista para compra livros, discos, fotografias, postais e cartazes sobre a cidade é tão difícil quanto garimpar pepitas de ouro, outrora tão à flor da terra nas raízes dos capins que ainda hoje brotam nas pedr

São Sebastião. Cidadão de São João del-Rei?

Ainda hoje realizada com grande dignidade, no dia 20 de janeiro de cada ano, nos séculos XVIII e XIX a festa de São Sebastião figurava entre as mais importantes do calendário religioso da Vila de São João del-Rei. Tanto que era comum o senado da câmara fazer parte do cortejo, como por exemplo ocorreu em 1755 e em 1810, levando à frente do grupo o estandarte que o distinguia como representante do poder público. Isto acontecia nas mais importantes procissões, como de Corpus Christi, Anjos Custódios, São Jorge e outras. Com o tempo, este costume caiu em desuso, mesmo como tradição, e não mais se vê a Câmara Municipal, como corporação, presente em nenhuma celebração religiosa. Hoje, muito não mais  se vê nenhum vereador ou ocupante de cargo público municipal carregar insígnia ou lanterna junto ao pálio nas procissões são-joanenses, a não ser na Procissão do Senhor Morto, realizada na noite da Sexta-feira da Paixão. Se para os religiosos esta tradicional procissão é expressão de fé,

Carnaval de São João del-Rei tem saudades do imortal Rancho Carnavalesco Custa Mas Vae

Quem é de São João del-Rei, tem mais de cinquenta anos e passou a infância na cidade  certamente não se esquece: quando nas noites de carnaval clarins tocavam na Ponte da Cadeia anunciando que o Rancho Carnavalesco Custa Mas Vae já estava cruzando os Quatro Cantos, uma emoção forte inquietava a todos, disparava o coração. Aos poucos, a multidão ia se recompondo, voltando a si, recuperando o fôlego para ver passar, dolente, acetinada, verde e rosa uma das mais antigas agremiações carnavalescas da cidade, criada nos anos vinte do século passado. Um rancho moreno, perfumado, extraordinariamente singelo, com suas crianças inocentes, ingenuamente sensuais pastoras, homens e rapazes pontuando com firmeza o movimento do rancho. Ciganas, fadas, aladins, sultões, baianas, mandraques, piratas - todos deslizando sublimes ao som de uma marcha rancho de composição sofisticada e letra erudita, que colocava um dos mais antigos ranchos carnavalescos são-joanenses acima das constelações celestes e

Carnaval de São João del-Rei foi proibido. Era 1720

Não é de hoje que a alegria e o entusiasmo, em determinadas ocasiões, tomam conta das ruas e do povo de São João del-Rei. Desde os primeiros tempos do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, sua população, principalmente os negros, via em tudo oportunidade para festejar a vida e cair na gandaia e na folia, com rodas de batuques, cateretês e folguedos.  # Como eram espontâneas, autônomas e independentes, estas aglomerações incomodavam o poder público: afinal a alegria tem muita força; ninguém sabe do que uma pessoa feliz é capaz, se for exposta a um regime restritivo e opressor. Por isso, no dia 13 de janeiro de 1720, cumprindo o que determinou o Conde de Assumar, o Senado da Câmara da Vila de São João del-Rei publicou edital proibindo que os negros se juntassem para fazer bailes e folguedos. A ordem era tão severa que novo edital foi publicado quatro dias depois, no dia 17, reforçando a determinação. Temia-se as ameaça de danos, insubordinações e  revoltas qu

Em São João del-Rei, São Sebastião combateu o fogo do inferno na Guerra dos Emboabas

Não é de hoje que são amigos São João del-Rei e São Sebastião. Conta a história que o mártir guerreiro se instalou no então Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, no alvorecer dos anos setecentos. Na capela da virgem padroeira, assistiu aos horrores da Guerra dos Emboabas e se salvou do incêndio que a tudo destruiu, em 1709. Ainda hoje mora na cidade, em um altar lateral da matriz de Nossa Senhora do Pilar. Amizade tão antiga não enfraquece com o tempo. Se dez anos depois, em 1719, o Senado da Câmara da então Vila de São João del-Rei declarou obrigatória a celebração anual  de missa cantada e solene procissão em honra de São Sebastião, os são-joanenses, por devoção ao santo, levaram tão a sério tal determinação que até hoje realizam novenas barrocas e procissão para festejar o divino advogado e feroz combatente na luta contra a peste, a fome e a guerra. Ao longo de três séculos, importantes compositores são-joanenses produziram obras sacras que até hoje se alt

Pedindo fartura, vitalidade e proteção, São João del-Rei saúda São Sebastião

Guerreiro e protetor contra a peste, a fome e a guerra, em São João del-Rei São Sebastião é santo forte. A ele, todos querem agradar. Por isso, em sua homenagem, do dia 10 ao dia 19 de janeiro, no centro histórico, a matriz do Pilar realiza barroca novena, anunciada por tencão tocado no sino do Santíssimo Sacramento duas vezes por dia: às 12h15 e às 18h15. Nos bairros, várias folias populares de São Sebastião visitam as casas,levando fé, alegria, esperança  e devoção. Cantam músicas que têm ritmo próprio e recolhem esmolas que em sua maioria serão destinadas a obras sociais. No dia 20, barroco e popular se juntam na procissão de São Sebastião, que faz um percurso singular entre a matriz do Pilar e as igrejas das Mercês e do Carmo. Nela, a folia vai em silêncio, guarnecida pelas alas das irmandades, à frente do andor do mártir guerreiro, na cadência da banda de música. Em geral, ao final da procissão, a folia não entra na igreja, detendo-se no adro da matriz, no lado esquerdo d

Em São João del-Rei a fé é festa. O tempo todo!

Quem, convidado a entrar na sala principal de muitas casas antigas de São João del-Rei, ao sair, nunca observou que no lado de dentro da porta principal estavam escritos os nomes Gaspar, Baltazar e Belchior, com giz branco, às vezes dipostos em formação triangular emoldurando uma estrela de cinco ou seis pontas, assinalados ou não com uma cruz? Certamente muitas pessoas. Entretanto, o que nem todo mundo sabe é que esta inscrição expressa devoção católica aos três reis magos que, orientados pela estrela-guia, foram do Oriente a Belém para levar presentes e adorar ao Deus Menino. O giz com que os nomes e símbolos são grafados não é objeto comum. São bentos e distribuídos ao fim da missa festiva celebrada na igreja do Rosário na manhã do dia 6 de janeiro, para lembrar a "epifania" do senhor. Inscrições, insígnias, reverências e louvações ao menino Jesus são tão importantes que nova bênção e distribuição de giz se faz ao fim da tarde, após mais uma missa solene e rasoura e

Tencões & terentenas: 2 anos - Vila de São João del-Rei: 300 anos

Na primeira sexta-feira deste primeiro mês de 2013 - dia 4 passado - o almanaque eletrônico Tencões & terentenas completou dois anos de ativa existência, no endereço eletrônico http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com .br .  Foram, até aquela data, 447 postagens, acessadas mais de 56 mil vezes, o que daria uma média aproximada de 74 acessos / dia, estatística sempre ascendente considerando que, desde janeiro de 2012, o número de visitas diárias está na faixa de 85 -100 acessos. Houve dias em que se ultrapassou 220 acessos e, em vários meses, superou a casa de 3.500. trilhando por outra estatística, chegamos à marca de 127 visitas por postagem. Este fato merece registro, pois raros são os blogs que conseguem viver, ou sobreviver, com atualizações tão frequentes, muitas vezes diárias, por mais de um ano. Ainda mais quando possuem linha editorial tão definida, em torno de uma proposta tão específica, no caso a valorização e divulgação do patrimônio, da cultura e da memória de