Pular para o conteúdo principal

Festival Inverno Cultural 2013 São João del-Rei - Milton Nascimento, há 20 anos, "todo lugar é aqui"

Todo lugar é aqui - este é o tema do Festival Inverno Cultural de São João del-Rei em 2013. Não poderia haver saudação mais adequada para situar  um acontecimento nascido aqui qual o ouro de aluvião, que há mais de trezentos anos, nos idos de 1705, brotava à flor de terra, entre raizes de capim e quartzo, no Morro das Mercês e nas encostas da Serra do Lenheiro.

Todo lugar é aqui. São João del-Rei tem dessas coisas. Desde sempre e até depois de tudo, traz em si o mundo inteiro. Tem praia e cais sem sequer ter mar. Faz o bronze falar pelas bocas e badalos de seus sinos. Transforma estrelas em  brancas e doces amêndoas de coco e traz o céu para o chão, em suas centésimas e tricentenárias procissões. E também leva para o mundo a expressão artística, principalmente por meio da música barroca e sinfônica, do povo são-joanense. Compositores e maestros conterrâneos, de ontem e de hoje, são conhecidos além dos limites de nosso país. Toques de sino tão criativos e sofisticados quanto os de São João del-Rei não há em outro lugar, mesmo sendo aqui todo lugar.

Todo lugar é aqui quer dizer o mundo na palma da mão, além do alcance dos olhos, correndo veia afora até perpassar o coração. Maria Bethânia, há 40 anos, proclamou esta universalidade abissal da alma quando, no álbum Drama - Luz da Noite, lançado em 1973, declamou:

                   "Dizem que há mundos lá fora, que nem em sonhos eu vi.

                     Mas que me importa todo o mundo, se o mundo todo é aqui?"

Milton Nascimento, em 1993, no disco Ângelus, intercalou-se a James Taylor na música Only a dream in Rio e cantou

                              "O lugar de onde eu vim brota do coração.
                                O lugar onde nasci está em tudo e em mim.
                                O lugar que a gente sonhar pode existir e existirá. 
                                Vive em nós e viverá enquanto houver canção..."

Agora, 20 anos depois, ele é a estrela maior do festival Inverno Cultural que proclama "Todo lugar é aqui", em uma terra que almeja não ter medo nem fronteiras. Só o passado a conservar e o futuro, hoje e sempre, a conquistar...




                                       

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j