Agosto é o mês da música barroca em São João del-Rei. Pena que ninguém se lembra.
Maior injustiça com o oitavo mês do ano, que trouxe ao mundo, em São João del-Rei, dois grandes expoentes da música barroca são-joanense. São-joanense não: brasileira. Dois José Marias, nascidos com uma diferença de apenas 3 dias. Um em um século e outro em outro. Passados 124 anos.
Coincidência ou não, os dois moraram na mesma rua; o primeiro, inclusive, nasceu nela. O outro, é possível que nela também tenha nascido, mas não tive oportunidade de indagar.Que felicidade, a da Rua Santo Antônio, com seu casario colonial de altos muros e quintais de pitangueiras, jaboticabeiras, jasmins, com sua capelinha minúscula e não por isso menos preciosa, e com a sede de três das mais importantes corporações musicais de São João del-Rei - Orquestra Lira Sanjoanense, Orquestra Ribeiro Bastos e Banda Theodoro de Faria.Que outra rua, em nosso país, tem tão rica história (e tão valioso patrimônio) musical?
Seus nomes? José Maria Xavier e José Maria Neves.
O compositor Padre José Maria Xavier nasceu a 23 de agosto de 1819, em uma casa branca de grandes janelas azuis e telhado colonial (foto) na esquina do segundo serpentear da Rua Santo Antonio, seguindo dos funtos da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Negros em direção ao Tejuco.
Viveu 68 anos e deixou como herança para São João del-Rei um dos mais ricos e mais importantes acervos de músicas sacras coloniais do Brasil no século XIX. Ofícios para Endoenças e Semana Santa, Te Deums, novenas, ladainhas, antífonas, solos ao pregador, hinos, matinas e muitas peças que ainda hoje fazem parte do repertório da Festa de Passos, da Semana Santa e da Festa da Boa Morte, entre outras. Tão elevada era sua cultura que, mesmo morando no interior de Minas e dois séculos atrás, dominava os idiomas latim e francês.
Contam que morreu como um menino, ao cair de cima de uma árvore de seu quintal. Então, desde 22 de janeiro de 1887, Padre José Maria Xavier dorme tranquilo no Cemitério do Rosário. Mas como um menino, desce sempre a ladeira da Muxinga para ouvir suas próprias músicas tocadas nas igrejas e ruas de São João del-Rei.
José Maria Neves era maestro, nasceu a 20 de agosto de 1943 e, como o Padre José Maria Xavier, também morou na Rua Santo Antônio. Membro de uma respeitável família de músicos, entre eles a maestrina Maria Stella Neves Vale, começou a estudar música em São João del-Rei e daqui seguiu para o Rio de Janeiro e depois para Paris, onde formou-se Doutor em Musicologia pela Universidade de Sorbone.
Ao maestro José Maria Neves, São João del-Rei tem muito a agradecer. Além realizar, produzir epublicar vários estudos sobre a música sacra local, foi um grande incentivador da música barroca na cidade, postando-se, algumas décadas, à frente da Orquestra Ribeiro Bastos. Por sua influência foram gravados em long plays os primeiros registros fonográficos do barroco musical são-joanense, com os discos Matinas do Natal do Padre José Maria Xavier, Festa de Passos e Semana Santa, Novena do Carmo e Missa Grande, de Antonio dos Santos Cunha. Levando a música de São João del-Rei para além dos limites da Serra do Lenheiro, José Maria Neves impulsionou apresentações da Orquestra Ribeiro Bastos em capitais e grandes cidades de diversos estados brasileiros.
A vida não foi tão generosa com São João del-Rei, levando cedo o maestro José Maria Neves, aos .... anos. Se, do mesmo modo que o Padre José Maria Xavier, ele também dorme no Cemitério do Rosário, não sei. Pode ser que sim, pode ser que não. O certo é que, em espírito, ele continua incentivando os músicos da Orquestra Ribeiro Bastos e, apaixonadamente, os regendo, agora com olhar e mãos de eternidade...
Por tudo isto, São João del-Rei bem podia consagrar a terceira semana de agosto a estes dois músicos e reverenciá-los com a institucionalização da Semana da Música Barroca de São João del-Rei. Na programação, a realização de concertos, recitais, cursos, palestras e outros eventos ligados à música, especialmente à música barroca local. Compositor e maestro merecem. A memória musical brasileira precisa. O povo de São João del-Rei vai gostar. E com certeza aplaudir.!
Maior injustiça com o oitavo mês do ano, que trouxe ao mundo, em São João del-Rei, dois grandes expoentes da música barroca são-joanense. São-joanense não: brasileira. Dois José Marias, nascidos com uma diferença de apenas 3 dias. Um em um século e outro em outro. Passados 124 anos.
Coincidência ou não, os dois moraram na mesma rua; o primeiro, inclusive, nasceu nela. O outro, é possível que nela também tenha nascido, mas não tive oportunidade de indagar.Que felicidade, a da Rua Santo Antônio, com seu casario colonial de altos muros e quintais de pitangueiras, jaboticabeiras, jasmins, com sua capelinha minúscula e não por isso menos preciosa, e com a sede de três das mais importantes corporações musicais de São João del-Rei - Orquestra Lira Sanjoanense, Orquestra Ribeiro Bastos e Banda Theodoro de Faria.Que outra rua, em nosso país, tem tão rica história (e tão valioso patrimônio) musical?
Seus nomes? José Maria Xavier e José Maria Neves.
O compositor Padre José Maria Xavier nasceu a 23 de agosto de 1819, em uma casa branca de grandes janelas azuis e telhado colonial (foto) na esquina do segundo serpentear da Rua Santo Antonio, seguindo dos funtos da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Negros em direção ao Tejuco.
Viveu 68 anos e deixou como herança para São João del-Rei um dos mais ricos e mais importantes acervos de músicas sacras coloniais do Brasil no século XIX. Ofícios para Endoenças e Semana Santa, Te Deums, novenas, ladainhas, antífonas, solos ao pregador, hinos, matinas e muitas peças que ainda hoje fazem parte do repertório da Festa de Passos, da Semana Santa e da Festa da Boa Morte, entre outras. Tão elevada era sua cultura que, mesmo morando no interior de Minas e dois séculos atrás, dominava os idiomas latim e francês.
Contam que morreu como um menino, ao cair de cima de uma árvore de seu quintal. Então, desde 22 de janeiro de 1887, Padre José Maria Xavier dorme tranquilo no Cemitério do Rosário. Mas como um menino, desce sempre a ladeira da Muxinga para ouvir suas próprias músicas tocadas nas igrejas e ruas de São João del-Rei.
José Maria Neves era maestro, nasceu a 20 de agosto de 1943 e, como o Padre José Maria Xavier, também morou na Rua Santo Antônio. Membro de uma respeitável família de músicos, entre eles a maestrina Maria Stella Neves Vale, começou a estudar música em São João del-Rei e daqui seguiu para o Rio de Janeiro e depois para Paris, onde formou-se Doutor em Musicologia pela Universidade de Sorbone.
Ao maestro José Maria Neves, São João del-Rei tem muito a agradecer. Além realizar, produzir epublicar vários estudos sobre a música sacra local, foi um grande incentivador da música barroca na cidade, postando-se, algumas décadas, à frente da Orquestra Ribeiro Bastos. Por sua influência foram gravados em long plays os primeiros registros fonográficos do barroco musical são-joanense, com os discos Matinas do Natal do Padre José Maria Xavier, Festa de Passos e Semana Santa, Novena do Carmo e Missa Grande, de Antonio dos Santos Cunha. Levando a música de São João del-Rei para além dos limites da Serra do Lenheiro, José Maria Neves impulsionou apresentações da Orquestra Ribeiro Bastos em capitais e grandes cidades de diversos estados brasileiros.
A vida não foi tão generosa com São João del-Rei, levando cedo o maestro José Maria Neves, aos .... anos. Se, do mesmo modo que o Padre José Maria Xavier, ele também dorme no Cemitério do Rosário, não sei. Pode ser que sim, pode ser que não. O certo é que, em espírito, ele continua incentivando os músicos da Orquestra Ribeiro Bastos e, apaixonadamente, os regendo, agora com olhar e mãos de eternidade...
Por tudo isto, São João del-Rei bem podia consagrar a terceira semana de agosto a estes dois músicos e reverenciá-los com a institucionalização da Semana da Música Barroca de São João del-Rei. Na programação, a realização de concertos, recitais, cursos, palestras e outros eventos ligados à música, especialmente à música barroca local. Compositor e maestro merecem. A memória musical brasileira precisa. O povo de São João del-Rei vai gostar. E com certeza aplaudir.!
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