Velocidade não é a principal característica do povo mineiro. Pelo contrário, o homem das montanhas de Minas é reflexivo, circunspecto, recatado. Pensa duas vezes, ou quantas vezes julgar necessário, antes de falar. Mas em São João del-Rei ainda existe um jornal que, há quatro ou cinco décadas atrás, chegou a ser considerado o jornal mais ágil do país, por lançar em um único dia três edições. Bastava que novidades importantes acontecessem. É o Jornal do Poste.
Doutor ou analfabeto, não existe são-joanense que nunca tenha parado nas calçadas para reparar o que noticiam as tabuletas pretas do Jornal do Poste, afixadas em diversos pontos do comércio central de São João del-Rei. Tão grande era a credibilidade do veículo que muitos são-joanenses, após ouvirem no rádio notícias sobre acontecimentos importantes, iam até o mural para se certificarem de que aquilo tinha mesmo acontecido. Se estivesse no Jornal do Poste, então não havia dúvida: era mesmo verdade. Para muita gente, por exemplo, a chegada do homem à lua e a morte de papas só passaram a ser inquestionáveis quando foram noticiadas pelo Jornal do Poste.
Tema já estudado pela folkcomunicação, o Jornal do Poste foi criado em 1958. Falam que inspirado em, para uns, O Malho, para outros, O Cacete - publicação apócrifa e manuscrita, que circulou na cidade lá pelos anos 20, afixada em postes. Diz a lenda que esse folheto, de uma só página e manuscrito, era redigido por uma mulher, com o objetivo de fazer denúncias, principalmente do que julgava hipocrisia da sociedade local e mal comportamento alheio.
Veículo de comunicação tão inusitado só podia mesmo ser obra de uma figura lendária: o fiscal fazendário e dono do Bar Bife de Ouro, João Lobosque Neto, para os são-joanenses Joanino Lobosque. A redação do Jornal do Poste? Era no próprio bar, onde Joanino, durante as madrugadas, ouvia os noticiários de rádio e, em meio a jiboias de criação, redigia - com versão pessoal - as notícias que divulgava, logo o dia clareasse, nos murais. Sobre sua conduta de funcionário público, quem o conheceu nos velhos tempos relata que era exemplar. Penalizava com neutralidade e igual rigor tanto comerciantes ricos quanto 'ladrões de galinha'.
Para o "jornalista" Joanino Lobosque, São João del-Rei era mais importante do que Roma, Paris e Nova Iorque, pois, como declarava para definir sua linha editorial, "uma briga num bar daqui é mais importante do que uma revolução outro lado do mundo".
O Bar Bife de Ouro fechou suas portas há muito tempo. Joanino Lobosque também faleceu há décadas. Mas o Jornal do Poste, patrimônio cultural da cidade onde os sinos falam, continua vivo em São João del-Rei. Ainda datilografado com fontes grandes e manchetes escritas a pincel atômico azul, preto ou verde, está cada vez mais enfraquecido - é verdade - pela concorrência desleal dos atuais meios de comunicação de massa, que tudo transmitem, a mil vozes, em tempo real.
Sem dúvida, o Jornal do Poste é um marco da comunicação de uma era passada, em especial da comunicação praticada em uma cidade do interior, cuja tradição jornalística remonta ao século XIX, com o periódico Astro de Minas. Da mesma forma que impulsionou a criação de todos os outros muitos murais que até hoje "circulam" parados nas fachadas comerciais da cidade, bem que o modelo do Jornal do Poste poderia inspirar o surgimento de um veículo contemporâneo de comunicação, próprio de São João del-Rei, na temática, linguagem, repertório, interesse e competência que são característicos desta cidade histórica.
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Fontes: www.overmundo.com.br
http://encipecom.metodista.br/mediawiki/index.php/A_voz_do_Poste:_Um_estudo_do_ve%C3%ADculo_comunicacional_%E2%80%9CJornal_do_Poste%E2%80%9D_na_cidade_de_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_del_Rei
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