Há quase duzentos anos, ou melhor, há exatamente 198 anos, no dia 15 de maio, São João del-Rei perdia um de seus mais importantes artistas: o arquiteto, construtor e escultor Aniceto de Souza Lopes.Seu nome não é lá conhecido pela maioria da população são-joanense, mas os monumentos que tiveram seu toque de mestre, muito pelo contrário, não há quem não se encante e não se orgulhe deles - as igrejas de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo e o pelourinho, hoje no Largo das Mercês.
Aniceto de Souza Lopes era alferes. Na igreja de São Francisco, atribui-se ao seu talento partes da escultura da magnífica fachada, como o relevo do frontão, esculpido em 1809, e a composição da qual fazem parte o Cristo Seráfico e São Francisco ajoelhado, recebendo os estigmas no Monte Alverne. Na igreja do Carmo, muitas são as obras de sua genialidade.
Já o pelourinho, esculpido em 1812, está completando este ano dois séculos. A coluna com duas bacias, sobre três degraus, que conhecemos hoje quase em frente ao Passinho da Paixão no Largo das Mercês, aliás, é apenas um fragmento do que era no tempo colonial. Originalmente, descrevem os historiadores, tinha em seu coruchéu uma escultura da deusa grega Astréa, voltada para o oriente. Na mão direita empunhava uma espada e da esquerda pendia uma balança, oscilante e sempre em desequilíbrio pela pretensão de pesar o movimento dos ventos e a gravidade do ar parado.
O pelourinho de São João del-Rei é um dos únicos cinco que sobreviveram no Brasil à abolição da escravatura, pois a esmagadora maioria foi destruída por ação e influência dos abolucionistas, imediatamente após a assinatura da Lei Áurea. É possível que tenha sido neste afã que a deusa Astréa foi derrubada do píncaro, o que danificou sua cabeça, braços e adereços. O corpo da bela escultura felizmente ainda existe, sob a guarda, dizem, do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei.
Modesta homenagem a tão qualificado e extraordinário artista, um jardim lateral da igreja de São Francisco de Assis de São João del-Rei, com um pequeno marco de bronze, chama o nome Aniceto de Souza Lopes. Há quem sonhe até que, em certas noites de frio e neblina, anjos barrocos brincam de roda com o alferes Aniceto, entre as hortências, manacás, quaresmeiras e ipês que florescem ali. Os sinos de São Francisco, nos domingos, pela manhã, também contam esta estória...
Comentários
Postar um comentário